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Cidadania Italiana - A minha história

  • Foto do escritor: Vanessa
    Vanessa
  • 18 de abr. de 2021
  • 9 min de leitura

Quando eu tinha 20 poucos anos (nem faz tanto tempo assim), meu avô materno disse para eu ir atrás dos documentos para reconhecer a cidadania italiana. Até cheguei a ir em um Circolo Italiano que tinha em Guarulhos para saber o que fazer. A atendente me deu um formulário que serviria pra localizar o Comune e enviar uma solicitação, via correios, pra eles enviarem a certidão do pai do meu avô e iniciar o processo.


Sabem o que eu fiz???? Fui na conversa de que demorava quase 20 anos pra conseguir reconhecer a Cidadania Via Consulado de São Paulo e engavetei o papel...


Muita imbecilidade da minha parte, porque se tivesse seguido com a vontade do meu avô, o tempo tinha passado e teríamos reconhecido a nossa cidadania, ele teria ficado feliz e eu teria chegado na Itália com o passaporte Italiano e... detalhe, talvez nem tivesse vindo para a Itália, mas sim pra a França... ahhhh França!


O que quero dizer com isso? Que nunca sabemos o que realmente irá acontecer em nossas vidas! Temos uma ideia, fazemos planos, mas nem sempre acontece como planejamos, não é mesmo?!


Então... você que tem a oportunidade de reconhecer a Cidadania Italiana e mora em um estado que está sob jurisdição do Consulado de São Paulo, entre na fila! Não importa que hoje esteja com 10 anos (olha só, já reduziu!), porque quando menos esperar será chamado e fará esse processo que promove contato com a família e te leva a conhecer histórias que talvez não conhecesse se não entrasse nessa.


Bom... em 2018, após retornarmos de umas férias na Europa, começamos a planejar nossa mudança de país, que em princípio seria França. Durante as pesquisas de lugares, economia, estudos e condições climáticas, tinha a parte bem importante que era o trabalho e aí as coisas começaram a tomar outro rumo. Comecei a pensar que sendo cidadã da União Europeia as coisas poderiam ser mais fáceis e fui atrás de informações sobre a Cidadania Italiana quando me deparei com essa opção: fazer o reconhecimento na própria Itália. A partir daí o objetivo passou a ser a Itália. Começamos a procurar uma forma de alugar casa no país, a estudar o idioma e... lá vamos nós, iniciando os preparativos para a grande mudança.


Quero citar duas situações que descobri durante essas pesquisas:

1- Que com quatro anos de casada, agora reduziu para três, eu poderia solicitar minha naturalização através do próprio Consulado de São Paulo... ahhh se eu soubesse... tinha casado antes...rs;

2- Que eu poderia solicitar o reconhecimento da minha cidadania italiana de qualquer país, que não fosse o Brasil, e não necessariamente na Itália, porém teria que ter uma forma de ficar de forma legal no país durante esse processo.


Ok, o fato é que já estava tudo encaminhado para a Itália e não seria mais viável voltar tudo pra irmos pra França.


Além de ter documentos como passaporte, reservista e previdência do meu bisavô em casa, nesse ponto eu já sabia o Comune que teria que acionar para conseguir os documentos italianos.

Meu avô tinha sobrinhos na Itália, aqueles que nos recepcionaram quando viajamos com ele, e eu tinha o contato apenas de uma, que por sinal é muito gentil. Falei com ela via WhatsApp em julho de 2019 para pedir ajuda com a Certidão de Nascimento e Casamento do meu bisavô, já que o Comune não retornava meus e-mails. Ela me enviou a tão requerida certidão e até pagou o envio via DHL... tão fofa gente!


Pois é, quando o documento chegou no Brasil, entendi que para fazer as retificações nos documentos brasileiros, por conta de erros de grafia, a tal certidão tinha que ser apostilada, ou seja, legalizada par ter validade em outro país. Eu, com vergonha de perturbar ainda mais a mulher, fiz essa parte sozinha. Entrei em contato com a Preffetura (órgão que faz o apostilamento) e fiz o trâmite todo via correios. Deu certo. Ufa!


Enquanto isso entrei em contato com o cartório de Matão (onde meu avô materno nasceu) para saber como faria a retificação da certidão de nascimento dele, já que seria a primeira certidão brasileira do meu processo e toda correção iniciaria por ela. Tudo certo com o cartório de Matão. Agora era só aguardar a certidão chegar, traduzir para o português, registrar como documento e enviar pra eles. Tudo caminhando bem. Nesse ponto já estávamos em dezembro de 2019 e eu ia iniciar as correções com tempo para nosso embarque em abril de 2020.


Só tinha uma parte desse processo de correções que me deixava um pouco incomodada, a questão de corrigir o meu sobrenome de Pesini para Pizzini, que é o correto. Isso implicaria em ter que alterar todos os meus documentos, simmm, eu disse TODOS: RG, CPF, título de eleitor, CNH, passaporte, diplomas... e além disso, ter que trocar tudo nos bancos, órgãos públicos.. ahhhhhh..... gzuisssssss!!! definitivamente era uma coisa que estava me deixando um pouco chateada.....


Passados Natal e Reveillon de 2019, estava com todos os documentos prontos para colocar nos correios e iniciar a retificação em Matão quando resolvi perguntar em um grupo de primos da minha mãe, por parte da minha avó materna... ok, também são meus primos, claro, mas antes são primos da minha mãe...rs,.... então.... resolvi perguntar se sabiam onde o pai da minha avó tinha nascido....e em 3, 2, 1..... voilà... uma prima tinha todos os documentos dele, desde a certidão de desembarque do pai dele e até certidão de Nascimento Italiana, que estava antiga, mas com todos os dados necessários para eu fazer uma nova solicitação....

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Minha ideia de perguntar para essa parte da família foi por ver uma chance de não ter que alterar meu sobrenome, já que só a minha avó o carregou e apenas não passou aos filhos. Dessa forma não alteraria os documentos dos que ainda estão vivos, minha mãe, tios, irmão e primos.... ufa... foi um verdadeiro alívio.... só que o tempo estava mais curto e precisei de ajuda para buscar esse documento na Itália, apostilar, pra fazer as devidas retificações que agora seria de Paganini para Paganin. Nesse caso a família da Itália não poderia ajudar porque estava em outra Província e eu não tinha coragem de pedir novamente, além de dizer que não ia usar a que ela já tinha enviado....


Foi aí que contratei o serviço de uma pessoa que me ajudou com toda agilidade que eu precisava naquele momento e decidi que também faria esse trabalho... afinal, salvaram minha pele, por que não fazer o mesmo para as pessoas?! Fiz um curso para entender os trâmites e atuar com profissionalismo. Até hoje ela me ajuda, pois se tornou uma parceira na prestação de serviço de busca de documentos que fazemos.


Bom, bora corrigir todas as certidões e deixar tudo certo até o embarque.


No meio disso tudo, fui informada que deveria fazer um documento para a minha mãe reconhecer que ela era mesmo a minha mãe..... que? que po###a é essa? Pois é, como meus pais não são casados, legalmente falando, e quem me declarou na certidão foi apenas meu pai, o nome da minha mãe está lá, mas ele que consta como declarante, precisava de uma escritura pública de reconhecimento de maternidade, porque minha mãe é que me transmite a cidadania. Ok, mais um documento pra fazer e colocar na pastinha. Seria um documento que faria próximo ao embarque porque alguns comunes na Itália não aceitam documentos com mais de 6 meses de emissão. Estava fazendo tudo baseado no tempo do nosso embarque, inclusive das certidões corrigidas, para não correr o risco de perder a validade.


Esse documento de reconhecimento de maternidade foi uma parte que me deixou um pouco insegura para fazer o processo na Itália, porque se fosse via Consulado de SP, minha mãe teria que reconhecer a cidadania dela primeiro pra depois fazer esse documento. Só depois disso faria a minha!... seria chato, só que tudo bem, pq estávamos em SP... mas e se no Comune que escolhemos fazer a minha cidadania tivessem essa postura também?.... lascou!, por que não teria como a minha mãe vir fazer a dela e depois eu fazer a minha.... sem chances..... parei de pensar nisso e bola pra frente...


Então fechamos o aluguel da casa em um Comune que algumas pessoas já haviam feito o processo e relatavam que eram organizados, sérios e que faziam o trabalho bem feito, sem achar pelo em ovo. Só que nenhum dos meus contatos tinha uma situação como a minha. Mesmo assim resolvemos arriscar. O que poderia acontecer, caso eles não aceitassem fazer o meu processo, era ter que procurar outro lugar e talvez outro, outro, até encontrar um que fizesse. O fato é que brasileiro só pode ficar na Europa, sem visto, por 90 dias e se não desse certo de primeira, não saberíamos quanto tempo iríamos precisar para encontrar outro comune que aceitasse esse caso. Não é raro, nem impossível, apenas não tínhamos o contato de comunes que já tinham feito essa prática sem questionamentos. Por conta dessa incerteza resolvemos casar....

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Sim, de papel passado que fala né?... rs...porque se não desse certo, pelo menos poderia pedir um visto de família (permesso di soggiorno per matrimonio) e não ficaria ilegal no país, além de ter todos os direitos de um cidadão italiano. Em último caso, após 3 anos, eu pediria minha naturalização. Resolvido!


Com tudo programado para embarcar dia 12/abr, fomos surpreendidos pela pandemia e ficamos sem data para mudarmos para a Itália.... tristeza e frustração....


Fiquei de olho nas alterações do DPCM (decretos italianos que saiam de 15 em 15 dias) sempre buscando possibilidades de embarque ainda em 2020.


Como estava insegura com a Escritura Publica de Reconhecimento de Maternidade, enviei todos os documentos para serem analisados em 31/8 por um profissional, porque olhava tanto pra eles que já tinha até dúvidas se estavam certos mesmo, e por um problema no sistema, tive o retorno só no dia 14/09, ufa... foi por pouco, pois soube que a dita cuja estava errada e tive que fazer outra e os cartórios estavam trabalhando só com agendamento. Fiquei um pouco aflita porque a essa altura estava com os bilhetes marcados para embarcar dia 18/set, já que surgiu a oportunidade de fazer a quarentena na Inglaterra.


Saímos praticamente correndo para não perder a chance... e sem os documentos por que tinha acabado de pedir todas as certidões novamente, já que os 6 meses de emissão venceriam em breve.... coooooorrrrreeeeeeee!!!!!


Fizemos a quarentena em Liverpool, como contamos em outro post, e nesse tempo os documentos foram apostilados no Brasil. Chegamos na Itália dia 06/out e aproximadamente uma semana depois os documentos foram enviados para o tradutor daqui fazer as traduções e me encaminhar tudo prontinho para seguir em frente. Isso tudo acabou atrasando o início do processo, porque precisava apresentar os documentos no Comune para saber se aceitariam fazer o meu reconhecimento. \Então, apesar de termos chegado na Itália em 06/out, posso dizer que, oficialmente, o início do processo foi em 06/novembro/20, quando pude pedir a confirmação da residência, após o Ok do Comune para os documentos. O processo foi finalizado em 05/março/21, quando assinei a transcrição da certidão. 04 longos meses. Considerando que tivemos quase 3 semanas de recesso do Ufficio di Stato Civile (as oficiais pegaram Covid-19), feriados de Natal, Réveillon, Befanda e Carnaval, acho que o saldo foi bom.


Reconheço que sou privilegiada por ter tido a opção de ter duas partes da família que me proporcionaram essa oportunidade e por ter tido as informações dos meus antenatos de forma muito fácil, porque sei que para algumas pessoas, o mais difícil é descobrir a origem do antenato, o que pra mim veio como um presente.


Só não vou competir com o Marcelo porque aí já é demais né gente?! Além do cara ser filho de italiano ainda teve um nonno (vô paterno) que juntou a documentação da família inteira, no final dos anos 80, e levou no consulado para deixar todos com a cidadania reconhecida. Sucesso!!!


Ah e o nosso casamento.... foi só um dinheiro a mais para o cartório e mais um documento pra apostilar e traduzir, porque acabei nem precisando usar desse instrumento....kkk... mas tudo bem, continuamos casados e nos divertindo. E já até comemoramos o primeiro ano na Italia...phynos..rs

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E quanto a vontade de morar na França... ela ainda existe, mas agora estamos tão pertinho que pode ser até uma casa de veraneio... rs


Dedico esse post aos pais dos meus avós maternos que tiveram a coragem de deixar a terra mãe em busca de novas oportunidades, as quais eles nem sabiam exatamente como seriam. Aos meus avós por terem deixado viva a italianidade na família e aos meus pais por sempre incentivarem minhas escolhas... Por isso tive a oportunidade de fazer o caminho inverso, porém com mais informações e muito mais tecnologia, que permitem estar aqui hoje realizando um grande desejo contado nesse textão.


Vejam que máximo!... ter na mesma foto os Dois Antenatos!

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Obrigada a todos pela força, compreensão, ajuda, risadas, choradeiras, alegrias, os ouvidos disponíveis pra me ouvir falar desse assunto por milhões de vezes e tantas outras coisas que só quem passa, sabe como é...


Pra quem tiver interesse em saber toda essa linha do tempo, de como foi cada etapa do processo, no final terá um link contando o percurso.




2 Comments


Elisabeth Sloniewski
Elisabeth Sloniewski
Apr 20, 2021

Amigos Ban e Marcelo,

Linda história, muito feliz por vcs.

Parabéns pela cidadania italiana, amiga!

Falei pro Roger que está mais fácil eu casar com ele, do que pegar a cidadania do meu pai ou meus avós.

Amo 😍

bjo, Beth

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Vanessa Fernandes
Vanessa Fernandes
Apr 20, 2021
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Casa logo amiga...mais fácil e mais econômico...rs

Bjo,

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